quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia do Amigo


Um dia em 1969, não me lembro mais do dia, ao chegar à minha casa uma correspondência me esperava; nenhuma novidade para quem trocava mensagens via correios há muito. Que começou com um divertimento chamado “corrente da fortuna”.
Dinheiro que seria bom, jamais veio, mas amizades ficaram muitas até hoje.
O que chamava a atenção era o fato de eu ficar escrevendo por todos os cantos e querendo comprar selos sempre, visto que ainda era uma criança de doze anos.
Essa carta em especial nada tinha a ver com respostas às correntes que eu recebia e encaminhava; e estava escrita em portunhol, quase impossível de se entender; de um tal de Enrique da Argentina.
Mostrei-a para meus familiares e levei à escola, onde uma professora de nome Teresa, que dava aulas de francês, mas também entendia espanhol, elucidou tudo. Ela gostou da mensagem a ponto de escrever na lousa para que copiássemos.
Falava de amistad e sugeria que deveria ter um dia especial ao amigo.
Essa aula se transformou no primeiro debate em que eu estive e talvez fosse um marco em minha vida, resultando em usar as cartas de correntes para fazer novas amizades.
Correu mundo porque alguns brasileiros foram estudar no exterior e me escreviam de lá.
Arrisquei algumas vezes naquele tempo escrevendo em francês e inglês, mas as cartas traduzidas com um dicionário ficavam ininteligíveis.
Isso me fez estudar com afinco outras línguas e fiz cursos para esse fim.
Até uma década atrás eu guardava muitas dessas cartas numa caixa de papelão. Porém num dia a casa foi inundada e o que estava guardado foi impossível de resgatar.
Restaram às lembranças de uma época em que se podiam fazer amizades sem outras preocupações, conhecíamos pessoas num dia e no outro já podíamos visitá-la mundo afora ou dela receber visita. Não havia questões de insegurança.
Entretanto construímos uma base sólida de amigos, onde somos todos por um sempre. A única critica que eu pessoalmente recebo foi a de nunca me preocupar em divulgar essa comunidade, que eu justifico pela formação recebida de meus antepassados:
“A ajuda deve sempre ser voluntária, sem interesses e transparente.”
É o que fazemos, e nem queremos divulgação, precisamos adesões a fim de multiplicar a ideia, não para aumentar a quantidade de afiliados, mas para colocar a mão na massa.
Amigo de verdade, esse dia é seu e tem mais 364 dias para se dedicar a outro amigo de verdade.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O efeito pós TV


Pode acreditar, é inimaginável o poder da televisão. Bastou à pessoa mostrar a cara e tudo muda; e nem importa a que veio, virou celebridade.
Chega-se ao escritório na segunda-feira pela manhã e já te cercam.Até seus oponentes se rendem para cumprimento: vira herói.
- Chefinho, você falou bonito na TV hein?
- Você assiste? Sempre me diz que nunca faz isso?
- Eu vi sim, todo mundo viu, tá todo mundo comentando... Por que você não me avisou?
- Se você nunca assiste...

Logo começam as ligações, até o presidente daquela empresa que não quis te patrocinar, liga e chama para nova reunião.
Aquele famoso jornal que nunca divulgou seus feitos também solicita uma entrevista.
- Ah, sabe aquele livro que a editora rejeitou, ligou dizendo que vão publicar.
- Caramba! Parece mágica.
Até aquele cunhado que vive duvidando dos seus propósitos liga ao celular.
- E ai cara! Tá bonito hein. Pô, você faz um monte de coisas que eu nem sabia...
- Mas eu te convidei...
- Pensei que fosse brincadeira, você é sempre tão espirituoso; mas conta comigo...
- Mesmo? Mas é trabalho voluntário, você já me disse que quem trabalha de graça é relógio, se lembra?
- Era brincadeira, pode chamar que eu vou...
- Você me disse que estava muito ocupado, não tinha tempo...
- Eu me viro e dou um jeito...

Parentes que você não via desde o último funeral da família também ligam.
Até aquela sobrinha, estudante de jornalismo que você convidou para estágio, resolve fazer uma visita:
- E ai tio, quando eu posso começar?
- Começar o que minha querida?
- O estágio que me ofereceu no começo do ano?
- Um rapaz assumiu...
- E quanto você vai pagar?
- Ele entrou como voluntário...
- Deve ser um interesseiro, só porque você apareceu na TV...
- Começou antes disso, aliás, a entrevista foi fruto desse trabalho. Era o que eu sempre te pedia...
- Você nunca me disse que queria isso...
- Pensei que isso fosse atributo inerente de quem estuda comunicação social...
- Ineoque?